quinta-feira, abril 20, 2006

A língua falada

É interessante observar as diferenças entre as diversas línguas faladas ao redor do mundo. E um aspecto das línguas, a fonética, já é suficiente para provocar reflexões. Em geral, quando as pessoas ouvem e tentam entender os sons de uma língua estrangeira, é natural que elas procurem entendê-los em função dos sons da própria língua materna.

Hoje visitei, pela terceira ou quarta vez, um site que se propõe a mostrar a diferença entre sons vocálicos semelhantes na língua inglesa, como ocorre nas palavras ship e sheep. Primeiro alguns exemplos interativos mostram palavras com o primeiro som, depois palavras com o outro som. Depois disso há exercícios, inclusive um em que se pede que descubra qual palavra foi pronunciada (ship ou sheep? chip ou cheap? lip ou leap?).

Até consigo acertar os exercícios, mas não consigo me desvencilhar da maneira monolíngüe de pensar. Às vezes acho que o i de ship não passa de um ê disfarçado de i, e a pronúncia fica chêp. Outras horas vejo que não se trata exatamente de um ê, talvez seja um intermediário entre ê e i. E aí fica complicado conceber o som. Talvez seja mais como chp, com o i pouco pronunciado. No fundo sei que esse nível de detalhe não é tão importante. Afinal o fonema é apenas um objeto teórico; na prática diversos alófonos são usados no cotidiano.

Assim como há palavras que, estranhamente, possuem pronúncia diferente, há aquelas, chamadas de homófonas, que são pronunciadas da mesma forma (por mais absurdo que pareça à primeira vista). Sempre busquei uma maneira de diferenciar write e right, porque em alguns momentos queria dizer uma ou outra palavra, sem que o contexto ajudasse a diferenciar. Descobri que são homófonos, apesar das grafias bastante distintas. Uma lista de homófonos apresenta casos ainda mais absurdos, como muscle e mussel; pair, pare e pear; guessed e guest; buy, by e bye; to, too e two. Também já me impressionei que island se pronuncie como áiland (sem o som de s). Bom, não é novidade para ninguém que o mapeamento entre escrita e pronúnica do inglês é um pouco imprevisível (veja Hou tu pranownse Inglish).

É interessante observar a situação inversa: quais as dificuldades que as pessoas enfrentam ao estudar português como língua estrangeira? Entrei por engano em um site sobre o português, que afirma que "There is a subtle difference between the pronunciation of open and closed vowels", no entanto "their difference is not so great that it would cause confusion when spoken". Ele se refere a diferenças entre ó e ô, é e ê. Concordo que trocar um pelo outro não causa problemas de entendimento. O mais curioso é que a mim, brasileiro nativo, essa diferença parece bastante clara. Como as pessoas são diferentes!...

Já falei sobre a língua inglesa e vogais, então agora falarei sobre italiano e consoantes. O italiano, como língua românica, tem grandes semelhanças com o português; algumas fontes chegam a afirmar que as duas línguas são mutuamente inteligíveis. O italiano apresenta uma relação bastante previsível entre pronúncia e grafia das palavras. Os fonemas são de fácil assimilação por lusófonos. Ainda assim, tive oportunidade de escutar um italiano falando português, e reparei uma peculiaridade na pronúncia do t seguido de i. Havia um quê de ch na pronúncia, como se falasse tchi. Me passou pela cabeça se ele não estaria pensando na sílaba ci do italiano.

Esse desvio na pronúncia ainda representa o mesmo fonema. Essa diferença entre ti e tchi não faz parte da língua (eu acho), e pode ser entendida como sotaque. Os cariocas tendem a falar mais como tchi. Mas não deixa de ser interessante observar na prática como a língua materna interfere na expressão de uma língua estrangeira.

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